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21 de jun. de 2011

Contos infantis






Branca de Neve e os sete anões (irmãos Grimm).

Era uma vez, em pleno inverno, enquanto flocos de neve caiam leves como pena, uma rainha costurava, sentada próxima a janela. E assim costurando e levantando os olhos para observar a neve distraída furou o dedo com a agulha e caíram três gotas de sangue na neve branca.

Observando a neve ela pensou: _Queria ter uma filha branca como a neve, vermelha como o sangue e de cabelos negros como a madeira da janela.

Logo depois deu a luz a uma filha branca como a neve, vermelha como o sangue e de cabelos negors como o ébano;  e a chamou de Branca de Neve.
E logo após o nascimento de Branca de Neve a rainha faleceu.

Após um ano o rei casou-se com outra mulher; era bonita, soberba e prepotente, e não aceitava que ninguém fosse mais bela que ela.

Tinha um espelho mágico, e quando se espelhava dizia: 
_Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?
E o espelho repondia: No reino majestade, é você a mais bela.
E ela era contente, porque sabia que o espelho dizia a verdade.
Ma Branca de Neve crescia, e ficava cada dia mais bonita e a sete anos era maravilhosa como a luz do dia.
Uma vez a rainha perguntou ao espelho:
Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonito do que eu?
Da parede o espelho respondeu: você é muito bonita majestade, mas Branca de Neve é mais bonita ainda.
A rainha suspirou e ficou verde de inveja.
E daquele momento a visão de Branca de Neve lhe fazia raiva, tanto que ela odiava a menina.
E a inveja e o orgulho cresceram como erva daninha, e assim a rainha não teve paz nem de dia nem de noite.

Então ela chamou um caçador e lhe disse:
_Leva a menina no bosque, não quero mais vê-la. Mata, e me mostra os pulmões e o figado como prova da sua morte.
O caçador obedeceu e conduziu a menina longe; mas quando arrancou a faca para mata-la ela começou a chorar e disse:
_Ah, caro caçador, deixe-me viver! Correrei na floresta selvagem e não voltarei nunca mais.
E ela era assim bela que o caçador disse, comovido:
_ Vai, pobre menina. "Os animais ferozes te comeram rapidamente nesse bosque", pensava; mas sentia que isso tirava um grande peso do seu coração, e não deveria mata-la.
Enquanto voltava ao castelo caçou um porco do mato, o abriu, e tirou os pulmões e o figado e levou a rainha como prova.
O cozinheiro teve que salga-los e cozinha-los, e a maldita rainha os comeu, acreditando que eram de Branca de Neve.
Agora a pobre menina era sozinha no bosque e tinha tanto medo que se assustava até com as folhas das arvores e não sabia o que fazer.
Começou a corre e correr nas pedras afiadas e entre os espinhos; os animais ferozes passavam perto, mas sem fazer nem um mal a pobre menina.
Correu até que cansou as pernas; era quase noite, quando viu uma casinha e entrou para proteger-se.
Na casa tudo era pequeno, mas muito limpo e organizado.
Tinha uma mesa arrumada com sete pratos: cada prato com sua colherzinha, e sette faquinhas, sete garfinhos e sete copinhos.
Na parede, um no lado do outro, tinham sete caminhas, cobertas com lençóis branquinhos.
Branca de Neve tinha muita fome e muita sede, que comeu um pouco de verdura com pão de cada pratinho, e bebeu uma gota de vinho de cada copo, porque não queria comer tudo de um só e deixa-lo com fome.
E depois era completamente cansada que se deitou em uma caminha mas em nenhuma estava a vontade: o muito grande ou muito pequena, até que a sétima foi perfeita: deitou, rezou e dormiu. Quando a noite chegou junto a ela chegaram os donos da casa: eram os sete anões, que cavavam os minerais das montanhas.
acenderam sete velinhas e, quando a casinha foi iluminada, viram que tinha entrado alguém; porque não estava organizado como eles haviam deixado.
O primeiro disse:
_Quem sentou na minha caderinha?





O segundo: Quem comeu do meu pratinho?
O terceiro: Quem comeu um pouco do meu pãozinho? 
O quanto: Quem comeu um pouco da minha verdura?
O quinto: Quem usou o meu garfinho?
O sexto:  Quem cortou com minha faquinha?
O setimo: Quem bebeu do meu copo?
Então o primeiro observou ao seu redor, e viu que sua cama era um pouco bagunçada e disse:
_Quem bagunçou a minha caminha? 
Os outros em coro também gritaram: _ Também na minha caminha esteve alguém.
Mas o sétimo correu na sua caminha e encontrou Branca de Neve adormentada.
Chamou os outros, e todos se alegraram maravilhados e com suas velinhas iluminaram Branca de Neve.






_Ah, meu Deus! ah, meu Deus! exclamaram: _ Que menina linda!
E eram tão contentes que não a acordaram e deixaram-na dormir na caminha.
O sétimo anão dormiu com seus companheiros e deixaram Branca de neve repousar.
De manhã, Branca de Neve se acordou e se assustou vendo os sete anões.
Mas eles perguntaram gentilmente:_ Como você se chama? _Mi chamo Branca de Neve, _repondeu._Como você chegou na nossa casinha? perguntaram ainda os sete anões.
Ela contou que sua madrasta queria que a matassem, mas o caçador ha haviam deixado viva e ela correu por um dia inteiro, até que encontrou a casinha.
Os anões disseram: _Se quiser tomar conta de nossa casa, cozinhar, arrumar as caminhas, lavar e colocar tudo em ordem e bem limpo, você pode ficar conosco, e não te faltará nada.
_Sim - disse Branca de Neve, de coração.
E ficou com eles;
Arrumava a casa de manha enquanto eles andavam até as montanhas, a procura de minerais e de ouro, de noitinha voltavam, a a janta era pronta. de dia a pequenina estava sozinha. Mas a rainha, contente de ter comido os pulmões e o figado de Branca de Neve, não pensava em outra coisa, se não que ela era a primeira e mais bonita; andou ao seu espelho mágico e lhe disse:
_Espelho, espelho meu, exite no reino alguém mais bonita do que eu?
E o espelho respondeu: _Rainha a mais bonita aqui é você; mas ao de la dos montes, junto com os sete anões, Branca de Neve é muito mais bela.
A rainha envermelheceu, porque sabia que o espelho não mentia nunca, e descobriu que o caçador a havia enganada e Branca de Neve ainda era viva.
E então pensou de novo como faria para mata-la, pois ela deveria ser a mais bela de todo o país.
Pensa e repensa, finalmente maquiou o rosto e se fantasiou como uma velha vendedora, em modo de não ser reconhecida. E assim transformada, passou os sete montes até chegar a casa dos sete anões, bateu na porta e gritou.
_Coisas gostosas, quem compra! quem compra!- Branca de Neve deu uma olhada da janela e gritou:
_Bom dia, boa senhora, o que tem pra vender?
_Coisa boa, coisa bonita, - respondeu a velha, - Fitas de todas as cores -. E te mostro uma, de seda colorida.
"Essa boa senhora posso deixar entrar", pensou Branca de Neve; abriu a porta e se comprou uma bela fita colorida.
_Menina, - disse a velha, - Como esta vestida! Vem, desta vez te mostro eu como se coloca.
A menina colocou-se em frete a senhora com confiança e deixou amarrar o laço: mas a velha apertou tão forte e assim rapidamente que Branca de neve sufocou e caiu morta.
_Agora você foi a mais bela. - disse a rainha, e foi embora.
Logo se fez noite e os sete anões tornaram: assustados viram Branca de Neve jogada à terra, dura, como se fosse morta!
A levantaram e, vendo que a fita era muito apertada, cortaram o nó.
Então ela começou a respirar e levemente pouco a pouco se reanimou.
Quando os anões escultaram o fato ocorrido, lhe disseram:
_ A velha vendedora era a rainha; fique atenta, e não deixe entrar mais ninguém só quando estivermos em casa. 
Mas a malvada rainha, assim que chegou em casa, foi ao espelho e perguntou ao espelho:
_Espelho, espelho meu, existe alguém no reino mais bonita do que eu?
Da parede o espelho responde: _ Como sempre a mais bela e sempre Branca de Neve.
Com essas palavras, o sangue tomou conta do rosto da rainha de susto, porque viu que Branca de Neve ainda era viva.
"Mas desta vez, pensou _ Encontrarei alguma coisa que será o fim para ela"; e, visto que a rainha conhecia a bruxaria, preparou um pente venenado. Se transformou em uma outra velha. Passou os sete montes até chegar a casa dos sete anões, bateu na porta e gritou:
_Coisas bonitas! coisas belas!
Branca de Neve olhou fora e disse:
_Não obrigada, não posso deixar entrar niguém.
_ Mas olhar você pode!- disse a velha; tirando fura o pente venenado e mostrando.
A menina gostou tanto que se deixou seduzir e abriu a porta.
Concluída a compra a velha disse:
-Agora quero te fazer um penteado lindo-.
A pobre Branca de Neve, sem suspeitar, deixou; mas apenas a velha colocou o pente nos seus cabelos o veneno agiu e a menina caiu perdendo todos os sentidos.
_Contente a rainha disse: _Acabou pra você! e se foi.
Mas por sorte era quase noite e os sete anões estavam para voltar. Quando viram Branca de Neve jogada como morta, assustaram-se e suspeitaram logo da madrasta, procuraram e encontraram um pente venenado; logo que tiraram o pente, Branca de Neve tornou em si e contou o ocorrido.
De novo recomendaram que ela não abrisse a porta a mais ninguém.
Em casa, a rainha se colocou em frente ao espelho e disse:
_Espelho, espelho meu, existe alguém no reino mais bonita do que eu?
E o espelho responde:
_Minha rainha, a mais bela ainda é Branca de Neve, que vive com os sete anões depois das sete montanhas.
A tais palavras a rainha tremeu de raiva.
_Branca de Neve morrerá, -gritou, - mesmo que me custe a vida.
Andou em uma sala secreta onde não entrava ninguém e preparou uma maçã envenenada.
Por fora era de aspecto bonito, branca e vermelha, que dava água na boca somente de ver, mas quem comia um pedaço, morreria.
Quando a maçã ficou pronta, ela se fantasiou de camponesa, e assim passou os sete montes até a casa dos sete anões.
Bateu na porta, Branca de neve olhou pela janela e disse:
_Não posso deixar entrar ninguém, os sete anões me proibiram.
_Não importa, - respondeu a camponesa, - as minhas maçãs vendo do mesmo jeito. Pega, vou te presentear uma.
_Não, - respondeu Branca de Neve, - não posso aceitar nada.
_Tem medo de veneno? - disse a camponesa. - Observa, divido a metade: tu come a metade vermelha, e eu aquela branca.
A maçã foi feita com tanto cuidado que somente a metade vermelha era envenenada. 
Branca de Neve comia com os olhos a apetitosa maçã, e quando viu que a camponesa comia tranquila, não resistiu, estendeu a mão e pegou a metade envenenada.





Na primeira mordida caiu ao chão morta.
A rainha observou detalhadamente e correu rindo.
-Branca como a neve, vermelha como o sangue, preta como o ébano! Dessa vez os anões não conseguiram acorda-la.
Em casa a rainha perguntou ao espelho:





Espelho, espelho meu, existe alguém no reino mais bonita do que eu?
E finalmente o espelho respondeu: _No reino, majestade, você é a mais bonita.
Só assim o coração invejoso da rainha encontrou paz, se exite pais para um coração invejoso.
Os anões, voltando à casa, encontraram Branca de Neve jogada a terra, e não respirava, era morta. Levantaram-a, procuraram se tinha algum veneno perto, observaram o vestido, pentearam seus cabelos, deram banho na menina com água e vinho, mas inutilmente: o rosto da menina era morto e não se acordou.  
Colocaram-na em um banco grande, e a circundaram e choraram por três dias. Depois disseram: _ Não podemos enterra-la na terra preta,-e fizeram um caixão de cristal, de modo que se pudesse vê-la de todos os lados,  colocaram um epitáfio com seu nome em letras de ouro, e escreveram era filha do rei. Depois colocaram o caixão de cristal sobre um monte e um deles ficava sempre vigiando. E também os animais vinham chorar a morte de Branca de neve: primeiro uma coruja, depois um corvo e enfim uma borboleta. Branca de Neve ficou muito tempo, vermelha como o sangue e preta como o ébano.
Mas um belo dia apareceu no bosque um príncipe que foi à casa dos sete anões.
Viu o tumulo sobre o monte e a bela Branca de Neve e leu as letras de ouro.
Então disse aos anões:_Dei-me o tumulo e como recompensa darei o que quiserem- mas os anões responderam: _ Não a trocamos nem por todo o ouro do mundo.
_Então me deem de presente- disse o príncipe- Não posso viver sem ver Branca de Neve: quero onera-la, exalta-la como a coisa mais valiosa do mundo.
Ao sentir-lo, os bons anões se comoveram e presentearam o tumulo.
O príncipe ordenou seus servos que carrega-la nas costas. Só que ao tentar carregar tropeçaram e deixaram cair, assim o pedaço de maça venenada que comera Branca de Neve saiu de sua garganta.
E pouco depois ela abriu os olhos, abriu a tampa e se levantou: tinha voltado à vida. 
_Ah Deus, Onde estou? - Gritou.
O príncipe disse, cheio de alegria: _ Estais comigo, - e lhe contou o que tinha ocorrido, completando: _ Ti amo sobre qualquer coisa do mundo; vem comigo no meu castelo, serais a minha esposa. -Branca de Neve consentiu  e andou com ele, e foi ordenado o casamento com muito esplendor.
Mas no final convidaram também a maldita madrasta de Branca de Neve. Ela andou em frente ao espelho e disse:
Espelho, espelho meu, existe alguém no reino mais bonita do que eu?
_Rainha, a mais bela é a esposa.
A maldita rainha era tão chateada que não conseguindo conter sua raiva não queria ir ao casamento; mas não encontrou paz e foi ver a jovem rainha.
Entrando, reconheceu Branca de Neve e congelou de susto e de horror.
Mas eram já prontas duas sandálias de ferro: colocaram em frete a rainha e ele teve que usar as sandálias pesadas e dançar, até que caísse a ao chão morta.


Branda de Neve de Jachob e Wilhelm Grimm

20 de jun. de 2011

      








      Amazonia - Deriva de amazonas ( mulher que monta a cavalo, guerreira), o termo foi utilizado pela primeira vez em O País das Amazonas, do Barão Santa Anna Néri (1899).
      O grande RIO AMAZONAS nasce na Cordilheira dos Andes, no lago Lauri ou Lauricocha, no Peru, e deságua no oceano Atlântico entre as ilhas de Marajó. É o rio com maior bacia hidrográfica do mundo, ultrapassando os 7 milhões de km². No seu ponto mais largo atinge 11 km no período da seca que transforma-se em 45 km na estação chuvosa.

      A floresta tropical Amazônica tropical e uma das 3 maiores ao mundo, em segundo lugar as Florestas tropicais da África e em terceiro Florestas tropicais da Ásia. 
      A dificuldade que a luz encontra para penetrar devido as copas das arvores faz com que a  vegetação rasteira seja escassa, assim como animais que habitam o solo e se nutrem ou necessitam dessa alimentação para sobrevivência. 

      A diversidade de espécies e a dificuldade de acesso as altas copas, faz com que grande parte da fauna ainda seja desconhecia.
      A área da floresta é doze vezes maior que a França e corresponde a 32 países da Europa Ocidental.







Lendas da amazônia:


As Amazonas ou Icamiaba







Historiadores afirmam que o navegador Orelhana, cuja aventura vimos antes, não combateu com mulheres. Na verdade, teria se defrontado com uma tribo de índios encabelados, os quais, na guerra, eram auxiliados pelas mulheres, daí Orelhana ter se confundido. Mas outros, inclusive o Frei Gaspar de Carvajal, que participou da expedição, dão o testemunho da existência das mulheres guerreiras, no que são acompanhados por descrições de diversos índios... Mas estes não falavam em amazonas, até porque não sabiam o que significava. Os índios falavam em Icamiabas, que significa "mulheres sem maridos".
As Icamiabas viviam no interior da região do Rio Nhamundá, sozinhas. Ali, eram regidas por suas próprias leis. Durante muitos anos foram procuradas por diversos estudiosos e exploradores, porém nunca foram encontradas. A região era denominada por estes aventureiros de País das Pedras Verdes e era guardada por diversas tribos de índios, das quais a mais próxima das Icamiabas era a dos Guacaris. E por que a denominação de País das Pedras Verdes? Porque era justamente daí que se originavam os muiraquitãs, as famosas pedras verdes... Dizia-se que as Icamiabas realizavam uma festa anual dedicada à lua e durante a qual recebiam os índios Guacaris, com os quais se acasalavam. Depois do acasalamento, mergulhavam em um lago chamado Iaci-uaruá (Espelho da Lua) e iam buscar, no fundo, a matéria-prima com que moldavam os muiraquitãs, os quais, ao saírem da água, endureciam. Então presenteavam os companheiros com os quais tinham feito amor... Os que recebiam, usavam orgulhosamente pendurados ao pescoço. No ano seguinte, na realização da festa, as mulheres que tinham parido ficavam com as filhas e entregavam os filhos para os Guacaris...

Fantasia? Obra da imaginação? Patranhas de viajantes, cronistas e aventureiros? Hoje, tantos anos depois, é difícil de julgar. Mas os muiraquitãs existem: estão aí a enfeitar museus ou nas mãos de colecionadores particulares... Amazonas ou Icamiabas, a lenda foi tão forte que designou um rio, um estado da Federação e a toda uma região. Pode até não ter fundo de verdade, mas que é linda, é! Já pensou o que é fazer amor com uma bela mulher numa noite enluarada, à beira de um lago a espelhar a lua, em plena selva? E ao fim ainda receber de presente um muiraquitã? Se não é verdade, deveria ser!









De qualquer forma, quando se pronuncia Amazônia, não se pode deixar de pensar em muiraquitãs e em mulheres guerreiras, mas também amorosas, como aliás são as mulheres da Região Amazônica...
Era no Lago Verde que as Amazonas faziam seus muiraquitãs
Motivos semelhantes levam esse grande contigente populacional a se deslocar para Alter-do-Chão, uma vila turística localizada na margem direita do rio Tapajós e ligada por via rodoviária à cidade de Santarém. O rio Tapajós possui característica única entre os afluentes do Amazonas – suas águas são cristalinas – e, em frente à vila, com a descida das suas águas durante o verão, surge uma lagoa cor de esmeralda cercada por bancos de areia branca apropriadamente denominada de “Lago Verde”. O Lago Verde, também chamado de Lago dos Muiraquitãs, era ponto de passagem obrigatório das índias Amazonas.
Amazonas foi o nome dado às mulheres guerreiras da Antiguidade que habitavam a Ásia Menor e cuja existência alguns historiadores consideravam um mito. Segundo a lenda, elas removiam um dos seios para melhor envergar o arco, deixando o outro para amamentar seus rebentos, que, se nascessem do sexo masculino, eram impiedosamente sacrificados. Amazonas, aliás, quer dizer sem seios (“mazos”) em grego. No século XVI, essa designação foi dada a mulheres com as mesmas características, cuja existência histórica é discutida e que combaterem os conquistadores espanhóis no baixo-Amazonas.
Era no Lago Verde, considerado sagrado pelos indígenas, que as Amazonas recolhiam a nefrita (um mineral esverdeado), para produzir seu muiraquitãs, pequenos artefatos talhados na referida pedra em forma de sapos, tartarugas e serpentes, e ao qual se atribuem virtudes de amuleto. Os muiraquitãs eram oferecidas à mãe lua, em troca de favores. Diz a lenda que no fundo do lago há uma pedra mágica escondida. É essa pedra que dá ao lago a sua cor azul nas primeiras horas da manhã, mas que se transforma num verde intenso, durante o dia. Na realidade, isso pode ser o efeito do sol penetrando as águas transparentes e iluminando o fundo do lago, rico em nefrita.



Cobra Grande ou Boiúna
A lenda da cobra Honorato ou Norato é uma das mais conhecidas sobre cobra grande (ou boiúna) na região amazônica. Conta-se que uma índia engravidou da Boiúna e teve duas crianças: uma menina que se chamou de Maria e um menino chamado de Honorato. Para que ninguém soubesse da gravidez, a mãe tentou matar os recém-nascidos jogando-os no rio. Mas eles não morreram e nas águas foram se criando como cobras.
Porém, desde a infância os dois irmãos já demonstravam a grande diferença de comportamento entre eles. Maria era má, fazia de tudo para prejudicar os pescadores e ribeirinhos. Afundava barcos e fazia com que seus tripulantes morressem afogados. Enquanto seu irmão, Honorato, era meigo e bondoso. Quando sabia que Maria ir atacar algum barco, tentava salvar a tripulação. Isso só fazia com que ela o odiasse mais ainda. Até que um dia os irmãos travaram uma briga decisiva onde Maria morreu tendo antes cegado o irmão.
Assim, as águas da Amazônia e seus habitantes ficaram livres da maldade de Maria. E Honorato seguiu seu caminho solitário. Sem ter quem combater, Honorato entendeu que seu fado já havia sido cumprido até demais e resolveu pedir para ser transformado em humano novamente. Para isso, precisava que alguém tivesse a coragem de derramar "leite de peito" (leite de alguma parturiente) em sua enorme boca em uma noite de luar. Depois de jogar o leite a pessoa teria que provocar um sangramento na enorme cabeça de Honorato para que a transformação tivesse fim.
Foram muitas as tentativas, mas ninguém conseguia ter tanta coragem. Até que um soldado de Cametá, município do interior do Pará, conseguiu reunir coragem para fazer a simpatia. Foi ele quem deu a Honorato a oportunidade de se ver livre para sempre daquela cruel maldição de viver sozinho como cobra. Em agradecimento, Honorato virou soldado também.
Mas a lenda da cobra grande originou várias outras histórias. Uma delas, do estado de Roraima, tem como cenário o famoso rio Branco. Conta-se que a cunhã poranga (índia mais bela da tribo) apaixonou-se pelo rio Branco e, por isso, Muiraquitã ficou com ciúme. Para se vingar, Muiraquitã transformou a bela índia na imensa cobra que todos passaram a chamar de Boiúna. Como ela era tinha um bom coração, passou a ter a função de proteger as águas de seu amado rio Branco.
Existem ainda algumas crenças que buscam explicar a existência de cobras grandes na região Amazônica. Acredita-se, por exemplo, que quando uma mulher engravida de uma visagem a criança fruto desse terrível cruzamento está predestinada a ser uma cobra grande. Essa crença é bastante comum entre as populações que habitam as margens dos rios Solimões e Negro, no Amazonas. Há ainda quem acredite que a cobra grande pode nascer de um ovo de mutum. Existe ainda outra versão, mais comum no estado do Acre, sobre uma cobra grande que parece ser a versão feminina do boto. Segundo essa lenda, a cobra grande se transforma numa bela morena nas noites de luar do mês de junho para seduzir os homens durante os arraiais de festas juninas.
Há ainda os que contam que a cobra grande pode algumas vezes parecer um navio para assustar os ribeirinhos. Refletindo o luar, suas enormes escamas parecem lâmpadas de um navio todo iluminado. Mas quando o "navio" chega mais perto é possível ver que na verdade é uma cobra grande querendo dar o bote.
Em Belém, há uma velha crença de que existe uma cobra grande adormecida embaixo de parte da cidade, sendo que sua cabeça estaria sob o altar-mor da Basílica de Nazaré e o final da cauda debaixo da Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Outros já dizem que a tal cobra grande está com a cabeça debaixo da Igreja da Sé, a Catedral Metropolitana de Belém, e sua cauda debaixo da Basílica de Nazaré.
Os mais antigos dizem que se algum dia a cobra acordar ou mesmo tentar se mexer, a cidade toda poderá desabar. Por isso, em 1970 quando houve um tremor de terra na capital paraense falava-se que era a tal cobra que havia apenas se mexido. Os mais folclóricos iam mais longe: "imagine se ela se acorda e tenta sair de lá!".
O folclorista Walcyr Monteiro conta, após décadas de estudo sobre manifestações folclóricas da Amazônia, que em Barcarena (PA) existe o lugar conhecido como "Buraco da Cobra Grande", considerado atração turística do local.

O Boto
Quem viaja pelo interior de qualquer estado da Amazônia já ouviu falar da lenda de um belo rapaz desconhecido, de roupas brancas, sapatos brancos e o característico chapéu branco que busca encobrir parte do rosto e o buraco que traz no alto da cabeça: é o boto!

Nas festas ou à beira de trapiches, sempre haverá, segundo a crendice popular, um boto a espreitar alguma moça ingênua e, de preferência, virgem ou menstruada. Alguns descrevem até o andar da visagem: dizem que é meio desajeitado e que muitas vezes locomove-se com certa dificuldade pelo pouco hábito em terra firme. Outros já o descrevem como alguém muito alinhado, porém calado demais para os costumes da região. Por isso, logo se desconfia de que é algo sinistro.
No entanto, para as moças novas que porventura estejam a olhar alguma festa de interior, nada de estranho o boto lhe parece. Muito pelo contrário! A paixão é à primeira vista! Quando se dão conta já foram conquistadas.
Contam os caboclos que depois que o Boto consegue o que quer, ou seja, conquistar a moça escolhida, sai na carreira e se joga no primeiro braço de rio ou igarapé. Nessa hora é que todos se dão conta de que não era um rapaz qualquer, mas o boto!

Mãe d'água
A Mãe-d'água é a sereia das águas amazônicas. Dotada de indescritível beleza e canto maravilhoso, a Mãe-d'água encanta os pescadores que passam muito tempo sozinhos a navegar. Muitos deles não resistem ao seu delicioso canto e à sua beleza estonteante. Esses são levados pela visagem para morar com ela nas profundezas das águas onde desaparecem. A maioria nunca mais volta para suas famílias.
A Mãe-d'água habita as águas doces. Rios e igarapés são os seus domínios. Por isso, quem sai para pescar em horas mortas pode incomodar a mãe d'água que facilmente se melindra e encanta o invasor castigando-o com uma febre alta que nenhum médico dará jeito.
A cultura indígena trás algumas versões para a origem da lenda. Uma delas refere-se à história de uma índia chamada Dinahí, que impressionava a todos da tribo dos Manau por sua coragem. A índia era mais valente do que muitos homens da tribo. Isso começou a causar inveja entre os guerreiros da tribo, que passaram a persegui-la de todas as formas.
Numa noite, dois irmãos de Dinahí tentaram matá-la durante o sono, mas não conseguiram porque a índia tinha a audição mais aguçada do que um felino. Dinahí acordou e para se defender acabou matando os irmãos. Com medo da fúria de seu pai, o velho Kaúna, a índia fugiu.

Kaúna saiu na noite a perseguir Dinahí que durante várias luas conseguiu escapar. Mas sozinha e cercada pelos guerreiros de seu pai acabou sendo capturada. Kaúna ordenou que a filha fosse jogada nas águas, exatamente no encontro dos rios Negro e Solimões. Nessa hora, centenas de peixes vieram em socorro da índia guerreira e sustentaram seu corpo trazendo-o até a superfície. Os raios do luar tocaram a face de Dinahí e a fizeram se tornar uma bela princesa, com cauda de peixe e de cabelos tão escuros quanto as águas do rio Negro.

A índia guerreira se tornou a Mãe-d'água, representação da beleza e coragem da mulher da Amazônia.


A Iara
Muitas vezes confundida com a Mãe-d'água, a Iara, Uiara ou Ipupiara é um dos seres mitológicos mais populares da Amazônia. Seu poder de sedução é tão forte sobre os homens quanto o do boto sobre as mulheres. Por isso, às vezes é chamada de boto-fêmea. A Iara é descrita como uma mulher muito bonita e de canto maravilhoso que aparece banhando-se nas águas dos rios, ou sobre as pedras nas enseadas.
Para quem viaja pelos rios da Amazônia, a Iara pode ser um perigo, pois encanta o navegador e puxa os barcos para as pedras. Atônito, o pobre homem só se dá conta da tragédia quando já é tarde demais para se desviar.
Quem vê a Iara nunca mais a esquece. A sabedoria cabocla diz que o caçador que no meio da mata ouve um canto irresistível de mulher deve rezar muito e tentar sair logo do local. Mas poucos seguem a orientação dos mais sábios. Ao ouvir a Iara, não há homem que não a busque nas matas até a beira do rio onde a mitológica mulher pode ser vislumbrada.
Ao vê-la, os homens enlouquecem de desejo e são capazes de segui-la para onde for. Há os que contam terem sido levados para as profundezas, nos braços da Iara. Vêm de lá descrevendo o reino das águas como sendo de infinita beleza e de riquezas intocadas de onde nada se pode trazer. Quem se aventura a trazer algo de lembrança, é castigado com doença que só se cura com os trabalhos de alguma benzedeira poderosa das redondezas.
Há entre os índios a lenda do Jaguarari, índio forte e guerreiro da tribo Tuxaua que apaixonou-se pela Iara. Na tribo não havia ninguém mais forte e de bom coração do que Jaguarari. Todos o admiravam, tanto os homens, quanto as mulheres. Até que um dia, quando Jaguarari saiu em sua igara para pescar avistou uma bela morena nua a se banhar e cantar na margem do rio, na sombra de um Tarumã. Jaguarari ficou paralisado e de pronto se apaixonou.
Desde então, saia para caçar ou pescar, mas sua única intenção era mesmo encontrar a Iara. Voltava tarde da noite da pescaria sempre triste. Nem parecia mais o belo índio de antes de visão. Sua mãe perguntava, o pai aconselhava, mas nada de Jaguarari voltar a ser como era antes.
Até que um dia, de tanto a mãe insistir em saber o motivo de sua tristeza, Jaguarari confessou estar apaixonado pela visão que tivera aos pés do Tarumã. Disse que à noite quando tentava dormir, a única coisa que ouvia era o inebriante canto da Iara.
Ao ouvir a revelação, a mãe desesperou-se! Jogou-se aos pés do filho e pediu-lhe chorando que nunca mais voltasse lá.
Mas a promessa nunca pôde ser cumprida, pois Jaguarari já estava enfeitiçado. Numa noite de luar, ela cantou tão forte que o belo índio levantou-se e correu para a margem do rio. As águas então se abriram e desde então Jaguarari desapareceu para sempre nos braços da Iara.










Vitória Régia

Conta a lenda que uma bela índia chamada Naiá apaixonou-se por Jaci (a Lua), que brilhava no céu a iluminar as noites. Nos contos dos pajés e caciques, Jaci de quando em quando descia à Terra para buscar alguma virgem e transformá-la em estrela do céu para lhe fazer companhia. Naiá, ouvindo aquilo, quis também virar estrela para brilhar ao lado de Jaci.

Durante o dia, bravos guerreiros tentavam cortejar Naiá, mas era tudo em vão, pois ela recusava todos os convites de casamento. E mal podia esperar a noite chegar quando saia para admirar Jaci, que parecia ignorar a pobre Naiá. Esperava sua subida e descida no horizonte e já quase de manhãzinha saia correndo em sentido oposto ao Sol para tentar alcançar a Lua. Corria e corria até cair de cansaço no meio da mata. Noite após noite, a tentativa de Naiá se repetia. Até que adoeceu. De tanto ser ignorada por Jaci, a moça começou a definhar.
Mesmo doente, não havia uma noite que não fugisse para ir em busca da Lua. Numa dessas vezes, a índia caiu cansada à beira de um igarapé. Quando acordou, teve um susto e quase não acreditou: o reflexo da Lua nas águas claras do igarapé a fizeram exultar de felicidade! Finalmente estava ali, bem próxima de suas mãos. Naiá não teve dúvidas: mergulhou nas águas profundas, mas acabou se afogando.
Jaci, vendo o sacrifício da índia, resolveu transformá-la numa estrela incomum. O destino de Naiá não estava no céu, mas nas águas a refletir o clarão do luar. Naiá virou a Vitória Régia, a grande flor amazônica de águas calmas que só abre suas pétalas ao luar.


Curupira
Outro ser lendário bastante comum na Amazônia é o Curupira, descrito como um menino de estatura baixa, cabelos cor de fogo e pés com calcanhares para frente que confundem os caçadores. Dizem que o Curupira gosta de sentar na sobra das mangueiras para comer os frutos. Lá fica entretido ao deliciar cada manga. Mas se percebe que é observado, o Curupira logo sai correndo, e numa velocidade tão grande que a visão humana não consegue acompanhar. "Não adianta correr atrás de um Curupira", dizem os caboclos, "porque não há quem o alcance".
O Curupira tem a função de proteger a mata e seus habitantes, inclusive pune quem os agride. Há muitos casos também de Curupiras que se encantam por crianças pequenas, que são levadas embora por algum tempo e depois devolvidas aos pais, em geral depois de 7 anos.
As crianças encantadas pelo Curupira nunca voltam a ser as mesmas depois de terem vivido na floresta, encantadas pela visagem.
Muito traquino, o Curupira também pode encantar adultos. Em muitos casos contados, o Curupira mundia os caçadores que se aventuram a permanecer no mato nas chamadas horas mortas. O encantado tenta sair da mata, mas não consegue. Surpreende-se passando sempre pelos mesmos locais e percebe que está na verdade andando em círculos. Em algum lugar bem próximo, o Curupira está lhe observando: "estou sendo mundiado pelo Curupira", pensa o encantado.
Daí só resta uma alternativa: parar de andar, pegar um pedaço de cipó e fazer dele uma bolinha. Deve-se tecer o cipó muito bem escondendo a ponta, de forma que seja muito difícil desenrolar o novelo. Depois disso, a pessoa deve jogar a pequena bola bem longe e gritar: "quero ver tu achares a ponta". A pessoa mundiada deve aguarda um pouco para recomeçar a tentativa de sair da mata.
Diz a lenda que, de tão curioso, o Curupira não resiste ao novelo. Senta e fica lá entretido tentando desenrolar a bola de cipó para achar a ponta. Vira a bola de um lado, de outro e acaba se esquecendo da pessoa de quem malinou. Dessa forma, desfaz-se o encanto e a pessoa consegue encontrar o caminho de casa.



O Guaraná
Entre os Índios Maués nasceu um menino muito bonito, de bom coração e de inteligência fabulosa. Como era muito esperto e alegre todos na tribo o admiravam.
Jurupari, o espírito do mal, ficou com inveja da criança e passou a espreitar para acabar com sua vida. A tarefa não era das mais fáceis, já que os outros índios sempre estavam à sua volta, principalmente os mais velhos que se sentiam na obrigação de protegê-lo. Mas Jurupari não sossegaria até fazer o mal ao pequeno.
Num dia, o menino brincando acabou se afastando dos outros índios. Encontrou uma árvore e tentou colher uma fruta. Jurupari se aproveitou e, na forma de uma cobra, deu o bote sobre a criança, matando-o.
A noite chegou e deram por falta da criança. Começou a procura por toda a tribo. Até que o encontraram morto aos pés da árvore. A notícia logo se espalhou com a tristeza geral na tribo.
Todos lastimavam a inusitada morte da criança mais amada de toda a tribo dos Maués. Chorou-se por várias luas ao lado do corpo inerte.
Num dado momento durante o funeral, um raio caiu justamente ao lado do garoto morto. "Tupã também chora conosco", disse a mãe da criança, "vamos plantar os olhos de meu filho para que deles possa nascer uma planta que nos trará tanta felicidade quanto o menino em vida nos trouxe". E assim fizeram!
Foi assim que dos olhos do pequeno índio nasceu o guaraná, fruta viva e forte como a felicidade que o pequeno indiozinho dava aos seus irmãos.



A Mandioca
Todos os índios tem pele morena. Uns mais, outros menos, de acordo com cada região e com a nação a qual pertencem. Apenas Mani nasceu diferente. Era branca como o leite e tinha os cabelos mais amarelos que as espigas de milho maduras.
Muito antes de nascer, o cacique já havia sido avisado de sua vinda. Em sonhos, um espírito branco havia contado que eles ganhariam um presente sagrado de Tupã.
Quando nasceu, Mani, apesar de tão diferente, não chegou a causar espanto, mas encanto! Todos queriam vê-la e tocá-la, pois ela era um presente vindo de Tupã.
E por ser diferente, chamava muita atenção. Todos diziam que ela era a mais bela índia que havia nascido na terra. Na tribo era tratada com uma jóia, uma coisa rara que eles deveriam preservar.
Mas tanto cuidado não evitou que Mani adoecesse como qualquer outra criança. Não teve reza nem remédio do pajé que desse jeito. A índia branca, para a desolação de todos, veio a morrer.
Aos prantos, a tribo escolheu um local bem bonito para depositar o alvo corpo de Mani. E todos os dias, aqueles que tinham saudades, iam ao túmulo. Com o tempo, veio a Primavera. As flores e plantas novas começaram a brotar. Um dia alguém notou que onde Mani foi enterrada nasceu uma planta que ninguém conhecia. Ela era tão estranha quanto Mani quando nasceu.
Todos ficaram felizes e todas as manhãs regavam o pequeno vegetal que crescia cada vez mais.
Um dos índios cavou ao lado da planta e encontrou a raiz que mais parecia um caroço, um nódulo, uma batata. Partindo o pedaço da raiz viram que dentro era tão branco quanto a pequena Mani. Era como se a criança tivesse voltado naquele estranho vegetal de raiz esquisita. Por isso, deram-lhe o nome de "Mani oca", ou "carne de Mani". Depois a palavra acabou virando Mandioca como a conhecemos atualmente.



Mapinguari

Uma das características mais marcantes do Mapinguari é o odor insuportável que ele exala na mata. Os caboclos o descrevem como um bicho semelhante a um homem com o corpo coberto de pêlos, como um grande macaco, e com apenas um olho bem no meio da testa. Dizem também que a boca do Mapinguari é algo descomunal; tão grande que não termina no queixo, como a dos homens, mas na barriga. A pele dessa figura mitológica é descrita como parecida ao couro dos jacarés e ele tem nas costas uma espécie de armadura que se parece com um casco de tartaruga.

Ao contrário das outras visagens, o Mapinguari ataca mais durante o dia do que à noite. E há também os que dizem que o Mapinguari só aparece em dias santos.
Dentro da mata, é fácil perceber o rastro de um Mapinguari: os arbustos ficam quebrados e o mato todo esmagado.
Ao correr no meio da mata o Mapinguari solta gritos, da mesma forma como os caçadores fazem para se comunicarem uns com os outros. Ele faz isso para atrair a atenção dos caçadores e poder devorá-los com sua boca imensa. E dizem que começa pela cabeça da vítima!












Matinta Pereira
Se é um pássaro ou uma velha ninguém sabe explicar ao certo. O que se sabe é que quando a Matinta assobia, o caboclo respeita e se aquieta. Imitam eles, dizendo que "em dada noite estavam em tal lugar quando de repente: Fiiiiiiiiiit, matinta perera!"
Em cada localidade, a Matinta é um personagem sempre atribuído a alguma senhora de idade. Se for alguém que viva sozinha, na mata, e que não costume conversar muito, melhor ainda! Essa, com certeza, cairá na boca do povo como a Matinta Perera do local.
Dizem que de noite, quando sai para cumprir seu fado, a Matinta sobrevoa a casa daqueles que zombam dela ou que a trataram mal durante o dia, assombrando os moradores da casa e assustando criações de galinhas, porcos, cavalos ou cachorros.
Dizem ainda que a Matinta gosta de mascar tabaco. E quando lhe prometem o fumo, ela sempre vai buscar no dia seguinte, sempre às primeiras horas da manhã. Por isso, há uma espécie de macete para quem quer descobrir a verdadeira identidade da Matinta Perera: quando se ouve o assobio na mata, o curioso deve gritar bem alto: "vem buscar tabaco!". No dia seguinte, bem cedinho, a primeira pessoa que bate à porta do curioso vai logo dizendo a que veio: "bom dia, seu fulano! Desculpe ser tão cedo, mas é que eu vim aqui buscar o tabaco que o senhor me prometeu noite passada!".
Assustado, o curioso deve logo providenciar um pedaço de fumo para dar à indiscreta visita. Se não der o que prometeu, a Matinta Perera volta à noite e não deixa ninguém dormir.
Outra forma de descobrir a verdadeira identidade de uma Matinta é por meio de uma simpatia onde, à meia noite, se deve enterrar uma tesoura virgem aberta com uma chave e um terço sobrepostos. Garantem os caboclos que a Matinta não consegue se afastar do local.
Há os que dizem que já tiveram a infeliz experiência de se deparar com a visagem dentro do mato. A maioria a descreve como uma mulher velha com os cabelos completamente despenteados e que tem o corpo suspenso, flutuando no ar com os braços erguidos. Ao ver uma Matinta, dizem os experientes, não se consegue mover um músculo sequer. A pessoa fica tão assustada que fica completamente imóvel! Paralisada de pavor!
Dizem ainda que quando a Matinta Perera sente que sua morte está próxima, ela sai vagando pelas redondezas gritando bem alto "Quem quer? Quem quer?". Quem cair na besteira de responder, mesmo brincando, "eu quero!", fica com a maldição de virar Matinta. E assim o fado passa de pessoa para pessoa.


Gente que vira bicho
Até mesmo nas periferias de algumas capitais da Amazônia, não é difícil ouvir histórias de gente que vira bicho. Imaginem no interior!
Tem gente que vira cavalo, porco, cobra, cachorro e assim vai. São pessoas que em noite de luar bonito se isolam da sociedade para cumprir seu destino solitário.
Cumprido o fado, o bicho volta a ser gente, veste suas roupas que ficaram escondidas em algum local ermo e volta para casa, como se nada tivesse acontecido, mas com apenas uma certeza no coração: na próxima noite de lua, o destino lhe baterá à porta novamente, até o final da vida.
A constante nessas histórias é o fato de que, o bicho-gente quando atingido de forma fatal, novamente se transforma em humano. Por isso, dizem que a única cura para o triste sofrimento de quem vira bicho é a morte.
À boca pequena, as pessoas que viram bicho em geral são descritas como muito pálidas, "amarelonas" no linguajar popular. Também são muito caladas, talvez por temerem a revelação do fatídico segredo.
Há quem diga ter presenciado a transformação. Para ver uma cena dessas, dizem os caboclos, tem que ter muita coragem ou ser muito curioso, pois não é nada bonito de se ver. O ser, ainda em estado humano, retorce o corpo caído ao algum local escondido, amargando o cruel sofrimento que está por vir. A transformação pode ocorrer nas areias de alguma praia, no mato ralo à beira de alguma estrada ou em clareiras dentro de mata fechada, as chamadas capoeiras.
Depois de muito se bater no chão, a transformação começa a acontecer e o bicho se levanta. Corre 7 encruzilhadas a judiar de todos por onde passa. Por isso mesmo, ganha inimizades a cada lua. Até que a comunidade se revolta contra o estranho animal e se combina para lhe abater. É o final de uma vida de sofrimentos e angústias.